Arte por Nina Pandolfo
De 17 a 30 de outubro, aconteceu a tradicional Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Durante duas semanas, foram exibidos 328 títulos de 65 países em diversos endereços, entre cinemas, espaços culturais e museus espalhados pela capital paulista, incluindo projeções gratuitas e ao ar livre.
A seleção desta edição fez um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial tem produzido, e também apresentou tendências, temáticas, narrativas e estéticas. A 43ª Mostra foi composta de seis seções: Apresentações Especiais, Homenagens, Restaurações, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil e Perspectiva Internacional. Desde 2017, o evento também apresenta filmes de realidade virtual.
Nasceu em São Paulo, em 1964. No início dos anos 1980, iniciou um curso de atuação com Wolney de Assis (1937-2015). Realizou filmes em super-8, o que não o afastou do teatro. Então, passou a frequentar sessões de cineclubes, período em que a influência cinematográfica se sobrepôs às outras artes. Um dos nomes essenciais da Retomada do cinema brasileiro, Brant graduou-se em cinema pela FAAP e começou a carreira dirigindo videoclipes para bandas como Titãs. Dirigiu curtas, como Dov’è Meneghetti? (1989, 14ª Mostra) e Jó (1993, 17ª Mostra), antes de realizar o primeiro longa, Os Matadores (1997). Dirigiu também Ação Entre Amigos (1998, 22ª Mostra), O Invasor (2002, que será exibido nesta 43ª Mostra), Crime Delicado (2005, 29ª Mostra), Cão sem Dono (2007), O Amor Segundo B. Schianberg (2010, 33ª Mostra), Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011, 35ª Mostra) e Pitanga (2016), vencedor do Prêmio da Crítica de Melhor Filme Brasileiro na 40ª Mostra.
Nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1975. Estudou por três anos na Universidad del Cine, na capital argentina. Alonso é um dos principais nomes do novo cinema argentino, movimento que emergiu no começo da década de 2000, e seus filmes foram exibidos e premiados nos principais festivais do mundo. Começou a carreira como assistente de som e, depois, de direção. Em 1995, escreveu e dirigiu o roteiro do curta Dos en la Vereda, com Catriel Vildosola. Em 2001, dirigiu, escreveu, produziu e montou o elogiado La Libertad (2001), seu longa de estreia que foi premiado em Roterdã. Dirigiu também os longas-metragens Los Muertos (2004, 28ª Mostra), premiado em Karlovy Vary, Fantasma (2006) e Liverpool (2008, 32ª Mostra), além dos curtas Lechuza (2009) e Sin Título (Carta para Serra) (2011). Jauja (2014, 38ª Mostra), seu trabalho mais recente, venceu o Prêmio da Crítica da seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes.
Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1965. É atriz, roteirista, cantora e diretora. Iniciou a carreira de atriz em 1982 no filme Silvestre (27ª Mostra), de João César Monteiro. Trabalhou com os principais cineastas portugueses, como Manoel de Oliveira, em A Divina Comédia (1991, 15ª Mostra). Em 1994, Maria ganhou a Copa Volpi de melhor atriz no Festival de Veneza pelo filme português Três Irmãos (1994, 18ª Mostra), de Teresa Villaverde. Estreou na direção com A Morte do Príncipe (1991, 16ª Mostra). Também dirigiu Capitães de Abril (2000), Prêmio do Júri de Melhor Filme na 24ª Mostra; os documentários Bem Me Quer...Mal Me Quer (2004, 28ª Mostra) e Repare Bem (2012, 36ª Mostra); segmentos dos filmes Bem-Vindo a São Paulo (2004, 28ª Mostra) e Mundo Invisível (2012, 35ª e 36ª Mostras), ambos projetos coletivos da Mostra; e o longa-metragem Entre Dois Desconhecidos (2015, 19ª Mostra). Integrou o Júri da 18ª Mostra, em 1994.
Estudou línguas e civilizações da Europa Oriental em Toulouse, Paris e Moscou, antes de se voltar para o mercado de gestão cultural e para a indústria cinematográfica. Como produtora, Xénia trabalhou com Michel Reilhac, da Mélange Productions, realizando documentários, curtas e longas-metragens, além de programas de TV. A partir de 2003, foi convidada para ser gerente de produção de vários filmes produzidos pela Slot Machine, como Dogville (2003, 27ª Mostra), de Lars Von Trier, e A Mulher sem Cabeça (2008), de Lucrecia Martel. Fundou a Eaux Vives Productions, em 2008, enquanto trabalhava como freelancer em várias empresas de produção e como produtora de filmagens no exterior. Também é membro da Academia Europeia de Cinema e, desde 2012, faz parte do júri do Prêmio de Construção de Cinema no Cinélatino, em Toulouse. Regularmente, a produtora ministra palestras para estudantes na La Fémis, em Paris.
A arte da 43ª Mostra nos leva ao universo lúdico e doce de Nina Pandolfo. Para a artista brasileira, o cinema nasce na cabeça, e as ideias, assim como a fantasia, vêm dali e se espalham pelo mundo. De uma aparente ingenuidade para esses tempos brutos, a menina-natureza que ilustra o nosso pôster parece também ter uma sabedoria milenar. O DNA do Brasil se encontra, ainda, no filme de abertura da Mostra deste ano. Wasp Network é uma produção brasileira baseada no livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais. O diretor do filme, o francês Olivier Assayas, será homenageado com o Prêmio Leon Cakoff e apresentará uma retrospectiva de seus filmes sempre instigantes. O cineasta israelense Amos Gitai também receberá o Prêmio Leon Cakoff e apresentará duas obras emblemáticas de sua trajetória, Berlim-Jerusalém, que comemora 30 anos, e Kadosh,que completa 20. Gitai também lançará Em Tempos como Estes, livro que reúne correspondências de sua mãe, Efratia, enviadas entre 1929 e 1994. O Prêmio Humanidade será entregue ao cineasta palestino Elia Suleiman. Dois de seus filmes mais simbólicos, Intervenção Divina e Crônica de um Desaparecimento, farão parte dessa homenagem, além de seu mais recente trabalho, O Paraíso Deve Ser Aqui, Menção Especial do Júri no Festival de Cannes. Mariette Rissenbeek, atual diretora-executiva do Festival de Berlim, selecionou alguns títulos que marcaram os 16 anos em que esteve à frente da German Films, traçando assim um panorama recente da produção alemã. O cinema da Alemanha ainda estará presente com O Gabinete do Dr. Caligari, obra-prima do expressionismo alemão, que será exibido na tradicional sessão na parte externa do Auditório Ibirapuera. Assim como nos últimos anos, o acompanhamento musical será feito pela Orquestra Jazz Sinfônica Brasil, mais uma vez com a regência do maestro João Maurício Galindo. A história e as origens do cinema também farão parte da programação do vão-livre do Masp. Filmes restaurados de Georges Méliès, além de dois curtas de animação dos primórdios do cinema brasileiro, serão apresentados com acompanhamento musical em 27 de outubro, em celebração ao Dia do Patrimônio Audiovisual. As projeções no local também contarão com uma homenagem à memória de Rubens Ewald Filho, com a exibição de O Mágico de Oz, um dos filmes favoritos do crítico. O cineasta brasileiro Luiz Rosemberg Filho, que faleceu este ano, será lembrado com a apresentação de seu último trabalho, Bobo da Corte, além de O Jardim das Espumas e Crônica de um Industrial, dois de seus mais impactantes títulos. Ainda sobre a memória, a Mostra celebra os 25 anos de um dos monumentos do cinema contemporâneo, Satantango, do diretor húngaro Béla Tarr, com a apresentação de uma cópia restaurada do filme. Num ano excepcional para o nosso cinema, o Theatro Municipal abrigará uma seleção de filmes brasileiros que estiveram presentes em grandes festivais internacionais, que levaram o nome do país para Cannes, Toronto, Sundance e Veneza. Além desse recorte de filmes nacionais, apresentaremos novos trabalhos de grandes mestres do cinema internacional que foram consagrados no circuito de festivais e são muito aguardados pelo público. Serão exibidos os ganhadores de Cannes, Berlim e San Sebastián. Mas a Mostra também continua sua observação atenta sobre cineastas em seus primeiros filmes com a Competição Novos Diretores e está sempre aberta a novas linguagens com a seção que se dedica a obras de realidade virtual. E inova transformando o ciclo Memórias do Cinema em podcast. Além dos convidados deste ano, resgataremos para o podcast os depoimentos de Eduardo Coutinho, Hector Babenco e Rubens Ewald Filho. O III Fórum Mostra coloca novamente artistas, produtores, gestores públicos e estudantes para pensar o audiovisual nosseus aspectos criativos, políticos e mercadológicos. E o encerramento da 43ª Mostra terá, como na abertura, DNA brasileiro. Dois Papas, o aguardado retorno de Fernando Meirelles à direção de longas, será apresentado na sessão de premiação. Uma produção internacional que nos mostra que o cinema, como os balões da nossa menina-natureza, não obedece fronteiras. Agradecemos aos nossos patrocinadores pela segurança e por ter realizado conosco mais uma grande Mostra. Também somos gratos ao nosso público por mais um ano de boa companhia. Renata de Almeida e equipe da 43ª Mostra