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Após enigmáticas transmissões dos remanescentes da estação espacial em órbita no planeta Solaris, o psicólogo Kris Kelvin é enviado para investigar e avaliar a crise que se abateu sobre a equipe de astronautas. Ao chegar lá, Kelvin se depara com o mesmo misterioso fenômeno que aflige a estação de Solaris. O romance de ficção-científi ca homônimo do polonês Stanislaw Lem (1921-2006) foi cedido para adaptação após muita insistência. Tarkóvski chegou a propor ao escritor filmá-la como uma história de amor, sem viagem espacial, mas Lem não concordou. “É mais uma aventura que acontece dentro da consciência de um homem (...) e o objetivo da missão de Kelvin em Solaris é um só: mostrar que o amor é indispensável a qualquer vida”, diria o diretor no ano de sua morte. Não obstante, as autoridades venderam o longa ao Ocidente como “a resposta soviética a 2001, Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, obra cuja recorrência de efeitos especiais sofisticados desagradava o diretor russo. De fato, em lugar de travessias sofisticadas pelo hiperespaço e visões antecipatórias de novas tecnologias, Solaris acompanha vertiginosos mergulhos psicológicos por parte dos ocupantes de uma estação espacial atingida por estranhos fenômenos determinados pela proximidade de um planeta misterioso. Como um cérebro vivo, agente de provocações, o corpo celeste materializa pessoas desaparecidas e presentes apenas na memória dos astronautas. Sujeitos a essas alucinações palpáveis, eles são forçados ao reexame de questões cruciais de suas vidas, como num purgatório. “A vida inteira orbita ao redor desta definição: transformar a si mesmo, e esse deve ser o único objetivo da vida de qualquer homem. Porém, eu não descarto a ideia de que o purgatório possa ser aqui mesmo, na terra...”, disse Tarkóvski sobre Solaris.